Certa vez, li que em algumas aldeias indígenas existe um ritual de passagem para a fase adulta, onde um índio jovem entra sozinho na mata mais fechada longe de sua aldeia e fica alguns dias lá sozinho, sem armas, sem comida, até encontrar o seu "protetor", uma espécie de bicho, força da natureza que lhe servirá de talismã.
Além da busca pelo seu talismã, (digamos assim), cada índio encontra o seu eu, suas características, habilidades de força e coragem que serão marcas bastante expressivas de sua personalidade e serão de grande valia para a tribo.
Durante o tempo em que passei no hospital, me senti entrando na mata, encarei todos os meus medos e fragilidades, encontrei minha força e coragem.
Na noite do pós operatório, fiquei a noite toda acordada fazendo um preparativo para a cirurgia, e como o Arthur não podia ficar comigo, encarei essa sozinha.
Cofesso que tive medo, chorei de saudades de casa, do meu filho e do meu marido, senti uma solidão sem fim ali naquele quarto enorme em meio a uma noite fria e triste. Mas lá pelas tantas, fui sendo tomada por um sentimento de coragem e força, uma vontade de vencer o desafio e sair vitoriosa.
Quando o dia amanhecia, pude ver da janela o sol nascer tímido por entre as nuvens e enfim chegou o momento de ir para a sala de cirugia e dizer estou pronta!
Ao contrário do que pensei, me mantive calma e sem que percebece os efeitos da anestesia, adormeci e me deixei envolver em sonhos que me fizeram flutuar, envolta em uma névoa, com sons de pássaros e água, senti as forças da natureza e mais, me senti parte dela.
Meu despertar foi suave e leve, como se voltasse ao meu corpo depois de longo passeio, e se meu corpo estava lá todo cheio de curativos e ainda entubado, minha alma estava leve e fortalecida para encarar o que ainda estava por vir.
Continua...
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